quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Encontro 3 * Valor: Palavra


Palavra falada não tem pudor
É. Mas Palavra amada tem cor com cheiro de flor, calor com cor de amor, silêncio com som de passarinho e um Acolhedor de ninhos. És Tu, Manuel, de Barros, Palavras e Encantos.

As coisas que não existem são as mais bonitas
Sim Sim Sim como os jardins? Querubins Anutéias com sabore de geleia,colorida, querida de jesus Maria, sou Eu!

Não gosto de dar confiança à razão, ela diminui a Poesia

De forma alguma, nada, a razão não coabita com a poesia. Existe onde apenas homem existe, e por isso consiste em mesmo não coabitar. Já a Poesia é fina, tão fina que cai para fora da razão e vai direta ao coração!
Gratidão Gratidão Gratidão! Pela estada desse ser nessa terra onde estamos de tantos desagravos e conchavos do contrário ao que sou. Ele me ensinou com o sabor de suas palavras a libertar as minhas amarras e voar fora da asa. 

Encantou-me com a beleza de dourada destreza do canto de tuas palavras. Tão simples e profundidade infinita quanto rara e bonita.
Com amor de Colorida.

Nossa homenagem a este grande criança Ser!
Que de tão forte Presença, na ausência influenciou este momento, que a contento, nos foi desafiado em canto de passarinho, um diálogo de silêncio e brincadeira com as nossas comuns palavras, de tanto de nós, de tanto de mim.  
Manoel de Barros, um dos mais aclamados poetas contemporâneos brasileiros. Nascido em Cuiabá em 1916, Manoel de Barros estreou em 1937 com o livro “Poemas Concebidos sem Pecado”. Sua obra mais conhecida é o “Livro sobre Nada”, publicado em 1996.

Cronologicamente vinculado à Geração de 45, mas formalmente ao Modernismo brasileiro, Manoel de Barros criou um universo próprio — subvertendo a sintaxe e criando construções que não respeitam as normas da língua padrão —, marcado, sobretudo, por neologismos e sinestesias, sendo, inclusive, comparado a Guimarães Rosa.

Em 1986, o poeta Carlos Drummond de Andrade declarou que Manoel de Barros era o maior poeta brasileiro vivo. Antonio Houaiss, um dos mais importantes filólogos e críticos brasileiros escreveu: 

“A poesia de Manoel de Barros é de uma enorme racionalidade. Suas visões, oníricas num primeiro instante, logo se revelam muito reais, sem fugir a um substrato ético muito profundo. Tenho por sua obra a mais alta admiração e muito amor”. 

Manoel de Barros — Poesia Completa Bandeira”  
Vamos continuar a brincadeira de dialogar no silencio de passarinho? Então, vamos!

O livro sobre nada

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.


Sábio é o que adivinha.

Mas sem nada saber. Sábio, Ser.

Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.

Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.

Concordo. Firme, Serena,Acolhedora. Povo de `Pé.
Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.

Eu queria ser lido pelas pedras.
Como se você está escrito nelas?

As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.

Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.

A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.

Digamos, arrumar de outro jeito, do desejo.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.

Ai quem me dera, aurora, quimera ser um passarinho e cantar sua canção!

Esta tarefa de cessar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ateu é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é nada. Só se compara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.



Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
Descobriu? Sentiu.Liga Liga Liga a Luz.

O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.O branco me corrompe.
Não gosto de palavra acostumada.

A minha diferença é sempre menos.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.

Não preciso do fim para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.



O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.

Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Eu também Manuel do Céu!

Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.

Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Fantástico!

Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Retrato do artista quando coisa

A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.

O fazedor de amanhecer

Sou leso em tratagens com máquina.
Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis.
Em toda a minha vida só engenhei
3 máquinas
Como sejam:
Uma pequena manivela para pegar no sono.
Um fazedor de amanhecer
para usamentos de poetas
E um platinado de mandioca para o
fordeco de meu irmão.
Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas pelo Platinado de Mandioca.
Fui aclamado de idiota pela maioria
das autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que fiquei um tanto soberbo.
E a glória entronizou-se para sempre
em minha existência.


Tratado geral das grandezas do ínfimo

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.

Sou fraco para elogios.

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